sábado, 18 de novembro de 2017

MÃE

Nivia
Nem sei quantos anos passaram porque de qualquer maneira foi só ontem que partiste . Para onde não sei: das muitas notíciasmas nunca pões o endereço . Mesmo assim nos falamos contigo a qualquer momento usando tecnologias que so o coração conhece. Mas falamos e ainda ontem me puseste a gargalhada: estava a deitar no lixo um pão cansado de esperar para ser comido. O meu gesto foi interrompido por ti e eu ouvi- me a dizer”Que Deus me perdoe” e era a tua voz quando se deitava comida fora que outras bocas podiam usar. Escangalhei de rir ali mesmo e ficamos juntas por muito tempo e bem dispostas. Telefonei a Tavinha e voltaste a estar connosco. Mas endereco da D Nivia? Nada! Ela mantém em segredo. Não vá este mercado sem éticas mandar lhe correspondência de comidas para as galinhas. Esta bem, Nivia , a gente entende: desde que a gente se continue comunicando, esta tudo bem. Às vezes ‘e tipo Skype em que posso ver o teu rosto doce, de linhas tão suaves que desafiam o tempo a passar; outras vezes ainda ‘e melhor que Skype porque a tua ternura imensa me envolve e só me distraio com as tuas unhas secas sempre a precisar duma boa manicure. Essas mãos que mexeram tanta massa para o nosso pão do dia a dia! E ainda rezávamos (depois deixa-mo-Nos disso) “obrigado meu Deus pelo pão que nos das hoje! “ Tretas! O Deus eras tu que fazia do pão ao doce ao chouriço aos vestidos novos dos natais preparados com semanas de antecedência: levava tempo tirar a prata do papel dos pacotes de cigarros para os transformar em estrelinhas da Árvore de Natal, que nunca, nunca faltou.
Não sei do teu endereço , mãe. Mas não preciso dele, porque para onde eu vou, tu vais comigo sempre.Espero que o Medeiros já tenha a resposta à pergunta que me fazia muitas vezes:”achas k a gente , quando no outro lado se pode abraçar? “ A primeira vez pensei que estava a pirar, depois vi que não, aquilo era o filosofar do velhote a pensar se te podia abraçar ai por onde vocês andam. Que pena não poderem mandar um selfie para a gente ver. Já agora eu também ficava a saber...
Bom, Maezinha, hoje fico me por aqui. Se eu fosse mais pequenina rezava as três Ave Marias para dormir bem, sem a língua do diabo a lamber me as bochechas. Mas agora os diabos e os deuses desapareceram e inda bem. Ficou antes esta imensidão do Universo em que cabemos muitos, até as vacas do Medeiros, os embondeiros de Meponda, os Ajauas um pouco longe dos Changanes e os Cataloes a léguas dos espanhóis, mas todos no mesmo Universo. E tu e nos, os teus filhos, os teus netos e bisnetos esta tudo pegado a tua saia a pedir esse colo ternurento que nos aquece a todos ainda hoje. Vou dormir Mãe. Boa Noite! Até amanhã.
Zita

1 comentário:

  1. Nivia
    Nem sei quantos anos passaram porque de qualquer maneira foi só ontem que partiste . Para onde não sei: das muitas notíciasmas nunca pões o endereço . Mesmo assim nos falamos contigo a qualquer momento usando tecnologias que so o coração conhece. Mas falamos e ainda ontem me puseste a gargalhada: estava a deitar no lixo um pão cansado de esperar para ser comido. O meu gesto foi interrompido por ti e eu ouvi- me a dizer”Que Deus me perdoe” e era a tua voz quando se deitava comida fora que outras bocas podiam usar. Escangalhei de rir ali mesmo e ficamos juntas por muito tempo e bem dispostas. Telefonei a Tavinha e voltaste a estar connosco. Mas endereco da D Nivia? Nada! Ela mantém em segredo. Não vá este mercado sem éticas mandar lhe correspondência de comidas para as galinhas. Esta bem, Nivia , a gente entende: desde que a gente se continue comunicando, esta tudo bem. Às vezes ‘e tipo Skype em que posso ver o teu rosto doce, de linhas tão suaves que desafiam o tempo a passar; outras vezes ainda ‘e melhor que Skype porque a tua ternura imensa me envolve e só me distraio com as tuas unhas secas sempre a precisar duma boa manicure. Essas mãos que mexeram tanta massa para o nosso pão do dia a dia! E ainda rezávamos (depois deixa-mo-Nos disso) “obrigado meu Deus pelo pão que nos das hoje! “ Tretas! O Deus eras tu que fazia do pão ao doce ao chouriço aos vestidos novos dos natais preparados com semanas de antecedência: levava tempo tirar a prata do papel dos pacotes de cigarros para os transformar em estrelinhas da Árvore de Natal, que nunca, nunca faltou.
    Não sei do teu endereço , mãe. Mas não preciso dele, porque para onde eu vou, tu vais comigo sempre.Espero que o Medeiros já tenha a resposta à pergunta que me fazia muitas vezes:”achas k a gente , quando no outro lado se pode abraçar? “ A primeira vez pensei que estava a pirar, depois vi que não, aquilo era o filosofar do velhote a pensar se te podia abraçar ai por onde vocês andam. Que pena não poderem mandar um selfie para a gente ver. Já agora eu também ficava a saber...
    Bom, Maezinha, hoje fico me por aqui. Se eu fosse mais pequenina rezava as três Ave Marias para dormir bem, sem a língua do diabo a lamber me as bochechas. Mas agora os diabos e os deuses desapareceram e inda bem. Ficou antes esta imensidão do Universo em que cabemos muitos, até as vacas do Medeiros, os embondeiros de Meponda, os Ajauas um pouco longe dos Changanes e os Cataloes a léguas dos espanhóis, mas todos no mesmo Universo. E tu e nos, os teus filhos, os teus netos e bisnetos esta tudo pegado a tua saia a pedir esse colo ternurento que nos aquece a todos ainda hoje. Vou dormir Mãe. Boa Noite! Até amanhã.
    Zita


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